Convento de Sant'Ana do Carmo
De fundação quatrocentista, o convento de Santa Ana do Carmo conheceu múltiplos e variados problemas, obrigando, anos mais tarde, à sua transferência de local.
O edifício que hoje conhecemos resulta da campanha mecenática de D. Dinis de Melo e Castro, a que se vieram reunir intervenções de cariz barroco, na igreja e noutros espaços de menores dimensões.
Com a extinção das Ordens Religiosas, o convento foi adquirido por particulares, nomeadamente o Conde de Lavradio, transformando em quinta o antigo complexo conventual. A iniciativa da instituição do Convento de Santa Ana, no termo de Sintra (no denominado Casal da Torre), deve-se a Mestre Henriques, físico de D. Duarte, que assim canalizava para fins religiosos todos os seus bens. Como tal, as obras só teriam início após a sua morte, ocorrida em 1449, e foi o sobrinho de D. Nuno Álvares Pereira, Frei Constantino Pereira, que fundou a casa, integrando este convento, a partir de 1450, no do Carmo de Lisboa. Todavia, os problemas relacionados com o isolamento e as condições naturais do local levaram a que, em 1457, e fruto de uma doação, se abandonasse a igreja já edificada, mudando-se os religiosos para a Boca da Mata.
Disponibilizados os recursos necessários à sua instalação e manutenção, teve início a campanha de obras do convento e da igreja, esta última sagrada em 1528. D. Dinis de Melo e Castro (doutor em Direito Canónico pela Universidade de Coimbra, Desembargador da Relação do Porto, da Casa da Suplicação e do Paço, Bispo de Leiria, de Viseu, da Guarda e Regedor das Justiças), foi responsável por um importante impulso mecenático na zona de Colares, da qual era natural, e onde se inclui a reestruturação do convento de Santa Ana, na primeira metade do século XVII (SERRÃO, 1989, p. 59).
Remontam a esta campanha os dois claustros, e a imponente capela-mor. A igreja, de nave única, onde impera a linguagem maneirista, dispõe de duas capelas laterais bastante profundas que, por isso mesmo, formam um falso transepto, desenhando, assim, uma planta de cruz latina. É coberta por abóbada de berço e, no pavimento, encontram-se várias sepulturas. O púlpito e o revestimento azulejar de golfinhos e jarras, pertencem já à intervenção do século XVIII.
A capela-mor apresenta retábulo barroco, que originalmente se encontrava na Capela de Santa Ana do convento do Carmo, em Lisboa (Sta. Ana, 1751, II, p. 117).
O pavimento exibe a campa rasa de D. Dinis de Melo e Castro, para além das de outros membros da sua família, para quem esta capela foi uma espécie de panteão. A fachada, maneirista, denuncia a transição para o barroco, principalmente nos elementos decorativos. Merece ainda uma referência a lápide, datada de 1611, junto à porta principal do templo que, muito possivelmente, se refere ao mestre de obras do convento.
As dependências conventuais desenvolvem-se em torno dos dois claustros, um maior e outro menor, mas ambos de traçado maneirista e de planta quadrada. No maior, de dois pisos, abre-se a capela da Sacravia, uma edificação seiscentista, de cobertura estucada, revestimento parietal de azulejos de ponta de diamante, pavimento de enxaquetados e retábulo de marmoreados. Por sua vez, a capela de São Pedro exibe retábulo de talha dourada e painéis de azulejo do início do século XVIII, relativos a Nossa Senhora do Carmo, atribuídos a António Pereira ou a António de Oliveira Bernardes (SIMÕES, 1979, p. 320).
Por fim, a capela de Nossa Senhora, que foi a cela de Frei Estevão da Purificação, foi objecto uma total remodelação nos anos de 1700, merecendo grandes elogios por parte dos seus contemporâneos.
Encontra-se no Domínio Particular e Privado.
Gentilmente, foi permitido pelos actuais proprietários, a realização da Via Sacra Nocturna de Sexta-Feira Santa, entre a Capela de Nossa Senhora do Rosário (Eugaria) e o Convento de Sant'Ana do Carmo, no ano de 2017.
Poderá ver algumas fotos deste orago, que aqui transcrevemos da obra de André Manique, in
O Convento de Santa Ana de Colares
Um Convento da Ordem do Carmo na Serra de Sintra.