Igreja de Santo António do Penedo
A Capela de Santo António do Penedo, situada na freguesia de Colares, que primitivamente invocou também Nossa Senhora das Mercês, terá sido construída no século XVI, época de pleno florescimento daquela aldeia.
Na esguia e sóbria frontaria destaca-se o portal encimado por um clássico frontão triangular, ao qual se sobrepõe um nicho onde se preserva uma imagem do santo padroeiro, Santo António de Lisboa.
No interior, de nave simples, destaca-se o revestimento integral das paredes com azulejos de tipo tapete policromos (cerca de 1628), enquadrando sete painéis figurativos que representam alguns passos da hagiografia do santo lisboeta. A abóbada de canhão que cobre a nave encontra-se ornada com caixotões relevados de estuque colorido. Um bem lançado arco triunfal conduz à capela-mor, cuja feição e decoração azulejar atuais remontam, muito provavelmente, a 1647, ano em que foi instituída por Francisco Nunes Dias: ESTA CAPELA HE DE FRAMSIS / CO NVNES DIAS E DE SVA MOLH / ER MARIA DOS ANIOS GONCALV / ES PERPETVA A qVAL CAPELA D / OTARÃO TRINTA ML RES DE FO / ROS NA FORMA qVE DECLAR / A A ESCRITVRA EN TRINTA DE I / ANEIRO DE 1647 ANNOS.
AZULEJO: NAVE e ARCO TRIUNFAL: totalmente revestidos de azulejo seiscentista (2º quartel séc.17) de padrão - enxaquetado simples e compósito - no qual se integram 7 painéis de composição figurativa ilustrando episódios da vida de Santo António. Os azulejos de enxaquetado simples, em azul e branco, revestem a parede até 1.70m de altura; uma cercadura de grifos C-60 sublinha a separação com o revestimento da parte superior da parede, em enxaquetado compósito com azulejos P-11. Integrado neste revestimento destacam-se os painéis de composição figurativa: ARCO TRIUNFAL : Descida da Cruz com Santo António e o Menino, 13 x 8 azulejos; NAVE: lado da epístola: Santo António cura uma criança; O milagre da mula; Santo António ressuscita um morto; lado do evangelho: Santo António pregando aos peixes; Santo António e o Menino Jesus; Sermão de Santo António numa igreja; todos os painéis têm 10 x 8 azulejos; um friso do tipo F-10 separa-os do revestimento de padronagem.
Está classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1961.
O Penedo pertence aos últimos locais do continente português onde são realizadas as tradicionais festas do "Império" ou do "Espírito Santo", que continuam a existir nos Açores, em particular na ilha Terceira. Estas festas são designadas de Festas do Divino Espírito Santo e têm uma antiquíssima história, remontando de forma mais directa ao reinado de D. Dinis e sua mulher, a rainha Santa Isabel.
Festas do Divino Espirito Santo
As festividades populares em louvor do Divino Espírito Santo que, na aldeia do Penedo, ainda hoje se realizam, inscreve-se num vasto âmbito geo-antropológico que, ao longo dos séculos, abrangeu quase todo o o território continental e insular, atingindo mesmo, de forma direta, o Brasil e diversas possessões em África e na Índia; através de várias comunidades de emigrantes, atingiu também os Estados Unidos da América e o Canadá.
As tradições relativas à origem das festividades em louvor e honra do Divino Espírito Santo vêm já sintetizadas em alguns autores dos Sécs. XVII e XVIII. Não aproveitando, de entre estes, os mais modernos, assinalemos no entanto os testemunhos de D. Rodrigo da Cunha(1672) e Pe. Manuel Fernandes (1690), por constituírem, afinal a base de quase tudo quanto posteriormente se veio a escrever sobre o assunto. Cortesão admite que a criação do culto ao Divino Espirito Santo " se deva a franciscanos, de tendência espiritual, e que a rainha ( Santa Isabel) a quem aquele culto de famílias e as cerimónias próprias lisonjeava o tenha favorecido" e "a que vinha e que significado essencial podia ter a coroação do imperador?(...) representava, e não podia deixar de ser, o mistério ou mais vernaculamente falando, o momo satírico dum culto que negava a autoridade do Supremo Pontífice, por consequência sumamente heterodoxo, e que ao contrário, proclamava a supremacia triunfante do poder civil".
Existe uma dualidade religiosa e outra profana.
Várias foram as festas, começando a existir registos físicos desde cerca de 1850, e nesse ano celebra-se a coroação de um homem adulto e missa, estando relatado que o Imperador presidiu aos festejos civis e religiosos e ofereceram-lhe incenso. Dois festeiros estão perto dele para quando necessário lhe agarrarem a coroa e o ceptro, e outro para enxotar as moscas quando este se encontrava parado.
Com a evolução dos tempos, outras manifestações iam sendo subtraídas e/ou juntadas, como por exemplo alvoradas, arraial, banda, passeio ou corrida do boi ou touro, ladainha, limpeza das carnes do bodo, confeção do bodo, cortejo, coroação, refeição em casa do imperador, bodo, promessas, jantar dos festeiros, missa, podendo ser cumulativas ou suprimidas. Inicialmente eram coroados Imperadores adultos até cerca de 1850/1860 e a partir de então crianças, e o boi que era usado manso até cerca de 1950 foi alterado para Boi Bravo.
Tapetes de flores, cheiro a bucho cortado, Gigas de oferendas, a pureza do Imperador Criança, a reconciliação entre membros da aldeia, alimentar os pobres e dar a paz ao mundo- festas de cor, cheiro e sentimento Pascal.
Só pode-se sentar a mesa do bodo quem as "pazes" tiver feitas.
Realizam-se ao Domingo de Pentecostes, podendo iniciar-se cinco dias antes.
A última festa, realizou-se em 2019, depois de 10 anos sem se efetuar, teve a presença do Eminentíssimo Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel III, que celebrou a missa e a coroou o Imperador, benzeu a imagem do Sagrado Coração de Jesus, adquirida para o dia, seguindo-se de um repasto simbólico com cozido do Açores, na Tuna Euterpe do Penedo.
Vídeo resumo das Festas do Divino Espírito Santo: