Nicho de Santo André
(Antiga Capela de Santo André)
Com o fim do Império Romano, no período das invasões germânicas, a obra histórica de Orósio e a Crónica de Idácio ainda citam o povo lusitano já romanizado, mas estes povos foram misturando-se com as vagas de invasores e colonos imigrantes.
Na nossa região, a invasão dos visigodos ( 415 D.C. ) foi sobretudo uma absorção do território com escaramuças aleatórias, rechaçando primeiro os alanos, depois os suevos, que, do norte peninsular, frequentemente faziam incursões, devastando também os territórios onde estamos inseridos. Os visigodos, vencedores dos suevos ( pelo rei Eurico, em 469 D.C. ) mais tarde substituem o Imperio Romano em decomposição, adoptando o seu sistema administrativo romano. Em 506, Alarico II, rei visigodo, reconcilia-se com os bispos católicos reunidos no Concílio de Agde e promulga a Lex Romana Visigothorum, base do célebre código jurídico que perdurou na Hispânia até o século XIII ( mais tarde, em 654, a Liber Iudiciorum - última versão do código visigótico, sob a forma que depois foi transmitida aos reinos da Reconquista ).
O arianismo dos visigodos, se bem que combatido pela Igreja de Roma ( só estariam completamente cristianizados em 589 ), permite que a primitiva igreja cristã comece a emergir e a substituir gradualmente as crenças politeístas anteriores ( os romanos mantiveram no Alto da Vigia, na foz do rio de Maçãs, um grande santuário dedicado ao Sol e à Lua e ao culto imperial, datável dos sécs. II-III d. C ), assim como absorvendo as primitivas seitas cristãs ( prescilianismo ), e criar uma alternativa teológica ao arianismo ( esta cristianização de Roma demorou séculos: ainda em 675, no XI Concílio de Toledo e no III Concílio de Braga, procedeu-se à condenação dos "estranhos" usos litúrgicos do norte da Península, que incluíam a celebração da missa com leite ou uvas, emprego das alfaias sagradas para usos profanos e exageradas formas de veneração dos bispos portadores de relíquias, assim como a condenação dos bispos que dizem a missa sem a estola, que vivem com mulheres e castigam os presbíteros com penas corporais ).
E neste período que podemos especular com a origem do primitivo nome de Santo André à área que hoje chamamos Almoçageme, e que durante séculos foi Santo André de Almoçageme.
O nome da localidade como Santo André teria tido origem devido à existência de uma Ermida de Santo André, sobre cujos vestígios existem descrições históricas e cuja localização era em local que hoje ainda se continua a chamar popularmente Santo André.
Em 554, a entrada dos bizantinos no sul da Península, pode estar associada à devoção de Santo André. Santo André (em grego: 'Ανδρέας, transl. Andreas; século I d.C.), conhecido na tradição ortodoxa como Protocletos (o "primeiro [a ser] chamado"), é um dos apóstolos cristãos, irmão de São Pedro. De acordo com Hipólito de Roma, ele pregou na Trácia e sua presença em Bizâncio também é mencionada no apócrifo "Actos de André", escrito no século II. Esta diocese acabará por se tornar o Patriarcado de Constantinopla. André é, por isso, considerado como seu fundador. Tanto ele quanto seu irmão Pedro eram pescadores, por profissão, e segundo a tradição Jesus tê-los-ia chamado para serem seus discípulos, dizendo que faria deles "pescadores de homens" . Eusébio de Cesareia, citando Orígenes, conta que André pregou na Ásia Menor e na Cítia, ao longo do mar Negro, chegando até o rio Volga e Kiev - daí que se tenha tornado padroeiro da Roménia, da Rússia, Escócia, Ucrânia, Grécia, Sicília e do Patriarcado de Constantinopla. André teria sofrido o martírio através da crucifixão, em Patras (Patrae), na Aqueia. Embora os textos mais antigos, como os Actos de André, mencionados por Gregório de Tours, descrevem que ele teria sido atado, e não pregado, a uma cruz latina, desenvolveu-se uma tradição de que André teria sido crucificado numa cruz do tipo conhecido como Crux decussata ("cruz em forma de 'x'"), comumente conhecida como "cruz de Santo André", e que isto teria sido feito a pedido dele próprio, que se julgava indigno de ser crucificado no mesmo tipo de cruz que havia sido usada para crucificar Cristo. Uma tradição escocesa afirma que as relíquias teriam sido levadas para o país, mais especificamente a cidade que leva o seu nome, Saint Andrews; a bandeira da Escócia apresentaria a sua cruz, que, após a união da Escócia com a Inglaterra, também passaria a fazer parte da bandeira do Reino Unido.
Em Portugal existem várias localidades com o nome de Santo André, com a curiosidade de a maior parte delas se localizar no litoral. Inclusive, existe um Cabo de Santo André, no concelho de Póvoa de Varzim, onde existe uma capela junto a um rochedo chamado Penedo do Santo, que tem uma marca que acreditam ser uma pegada do próprio Santo André. Os pescadores acreditam que este santo liberta as almas dos que se afogam no mar, indo pescá-las ao fundo do mar depois de um naufrágio. A festa deste santo acontece na madrugada do último dia de Novembro, em que grupos de homens e mulheres, envolvidos em mantos pretos e segurando lampiões, vão até à ermida pela praia, entoando cânticos e no final circundam a capela, formando assim o Ponto das almas.
Santo André, o pescador de almas, faz todo o sentido que tenha tido uma ermida à sua devoção num local como o de Almoçageme. Neste local, naturalmente, associavam-se tanto a prática do cristianismo primitivo, que queria salvar as almas daqueles que ainda não reconheciam Cristo, como a salvação das almas daqueles que perto, no mar, perdiam a sua vida sem estarem redimidos.
Esta visão religiosa de Santo André terá subsistido ao longo do período de ocupação dos almorávidas, e reforçado posteriormente a sua devoção, com a reconquista e ao longo da Idade Média, já no período da nacionalidade portuguesa, na qual as viagens e os naufrágios marítimos eram uma preocupação permanente.
Este Orago está sob a alçada da Junta de Freguesia de Colares e da Câmara Municipal de Sintra.