Santuário de Nossa Senhora da Penha (Peninha)

"Eminente ao mar na mesma Costa está a ermida de Nossa senhora da Peninha, situada sobre um rochedo, o qual por ser inferior em grandeza relativamente áquelle em que se edificou o Convento da Pena se chamou da Peninha.(...)"

Visconde de Juromenha- "Cintra Pinturesca" 1838

Lá no alto, a 488 metros de altitude, o Santuário da Peninha encanta pela sua magia e mística inabaláveis.

Construída por devoção popular, a Capela de Nossa Senhora da Penha (Peninha) surge na sequência de uma aparição de Nossa Senhora a uma pobre pastora. Este conjunto arquitetónico é composto ainda pela secular ermida de São Saturnino e por um enigmático palacete romântico-revivalista mandado construir, em 1918, por António Augusto Carvalho Monteiro (proprietário da Quinta da Regaleira).

É impossível dissociar a história deste Santuário da sua lenda. 

Esta conta-nos que, no reinado de D. João III, uma pastora muda e muito pobre, natural de Almoínhas Velhas, que tinha o costume de passear as suas ovelhas nas redondezas, perdeu uma das suas ovelhas. Ao longe, avistou uma senhora que trazia consigo a ovelha perdida. Sendo muda, a pastora agradeceu como pôde. A senhora pediu-lhe um pouco de pão, mas a pastora disse-lhe que não tinha, pois era muito pobre. A senhora disse-lhe, então, que ao chegar a casa chamasse pela sua mãe e lhe pedisse pão. A pastora, que sabia não ter pão em casa e ciente de que, sendo muda, não poderia chamar pela sua mãe, explicou à senhora que era impossível realizar tal tarefa. Depois de bastantes insistências, a pastora anuiu. Ao chegar, chamou pela sua mãe e, por milagre, a sua voz fez-se ouvir. Explicou-lhe o sucedido e juntas foram em busca de pão pela casa. Numa arca, encontraram pão suficiente para alimentar a aldeia inteira e acabar com os tempos de fome. Como agradecimento, toda a aldeia subiu ao monte onde se tinha dado o encontro com a Senhora e, no exato local do acontecimento, avistaram a imagem de Nossa Senhora. A partir desse momento, este tornou-se um local de culto sagrado. 

Depois de procurarem muito, viram num buraco de uma pedra, uma imagem pouco perfeita de Nossa Senhora que levaram para a Capela de S. Saturnino, no sopé do Monte da Peninha. Quando dia seguinte ali voltaram a imagem desaparecera, tendo voltado para o alto do monte. Trouxeram-na de novo para a capela, mas por três vezes a cena se repetiu. 

Porque voltou a Senhora ao alto do monte?

Conta-se que a teimosia da Nossa Senhora em querer permanecer no ponto mais alto estaria associada à vista que dali se alcança, dado que "a Senhora da Peninha tem sete irmãs, por isso quis ir para o alto do penhasco, porque aí avistava as sete irmãs, que são: a Senhora da Atalaia, a Senhora da Pena, a Senhora da Penha de França (Quinta da Arriaga, próxima de Almoçageme), Santa Eufémia, Santa Quitéria de Meca (...), Santa Baliza (Guia, Cascais), e a Senhora do Cabo (Espichel [...])." (Adrião, 2007, p.274). 64. Ver anexo, p. 161.

O desejo da Senhora era permanecer lá em cima e eles ergueram-lhe no alto do morro uma pequena e pobre ermida. Aí colocaram a imagem da qual se passou a ser conhecida por Nossa Senhora da Penha ou Nossa Senhora da Peninha.

Com esmolas que conseguiram, fizeram outra ermida melhor que da então, com seu altar e num nicho mais elevado colocaram a imagem. Ali esteve até, aproximadamente 1673, donde terá caído em virtude da derrocada da capela nesse ano, motivada por um forte abalo de terra. Quem contruiu a terceira capela da Peninha foi o Frei Pedro da Conceição, que segundo Raul Proença no Guia de Portugal, "era canteiro de ofício e homem iluminado, que se deixou prender pelo lugar, de seus pulsos... ergueu aquele oratório à Virgem da Peninha. Foi ele que lavrou os degraus de pedra dura que lhe dão acesso e calçou a tijolo o eirado". O Frei Pedro da Conceição tinha então 28 anos, construiu o templo com algumas esmolas que obteve e, ainda com ajuda de D. Pedro II, o que confirma que a construção é dos finais do Século XVII. Manda erguer uma capela consagrada a Nossa Senhora da Peninha, bem como as casas dos romeiros que serviam de apoio aos peregrinos. Por cima do arco triunfal vê-se, em círculo, e passando a uma linguagem clara: " o irmão Pedro esta obra com esmolas dosa fiéis - Ano de 1690". 

O fundador da atual capela da Peninha faleceu no dia 18 de Setembro de 1726, facto confirmado na inscrição tumular na coxia do templo. O chão da Capela  é todo forrado de mármores brancos, negros, rosados e amarelos e o altar, tal como o púlpito, são revestidos por belos embutidos do mesmo material, com as mesmas cores. Azulejos do Séc. XVIII da nave traduzem 42 passos da vida da Virgem. 

A imagem que se encontrava no altar-mor(vide fotos antigas) já não é a primitiva, pois esta, ao contrário do que refere a lenda, é muito trabalhada e de rosto muito expressivo. No altar existiam ainda mais cinco imagens: Santa Rita de Cássia, São Miguel Arcanjo, S. José, Santo Agostinho (sem indicação segura) e, ainda outra imagem, supostamente identificada como São Saturnino, mas não com toda a certeza do Séc. XII.

"(...)No tempo do Cardeal Rei, pelos annos de 1579, acudiram a venera-la (imagem da N. Senhora da Penha) muitos povos como Collares, Cintra, Cascaes, e de todos aquelles logares circumvizinhos até o Milharado(...) "

Visconde de Juromenha-Cintra Pinturesca, 1838.

Em 2017, A Parques de Sintra, o ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) e a EMAC (Empresa Municipal de Ambiente e Cascais) assinaram um protocolo para gestão da Quinta da Peninha. Neste âmbito, cabe à Parques de Sintra a reabilitação e a gestão do conjunto edificado do Santuário da Peninha, a fim de assegurar boas condições para a fruição deste património pelo público.

Registo de ilustrações antigas:

https://www.parquesdesintra.pt/pt/parques-monumentos/santuario-da-peninha/

Agradecemos aos Parques de Sintra Monte da Lua que nos facultou fazer este registo fotográfico ao edificado:

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